sábado, 2 de fevereiro de 2013


Jonilda Alves Ferreira, professora

PUBLICADO EM 01/02/2013 ÀS 08:00H POR RUBENS NÓBREGA 

Descobri a existência da professora Jonilda Alves Ferreira lendo a coluna que o presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, Benjamin Steinbruch, escreve na Folha de São Paulo todas às terças a cada 15 dias. Steinbruch, que mora no Rio de Janeiro, soube da existência de Jonilda depois de ler reportagem de Carlos Rydlewsk, vejam só!, na revista "Época Negócios". Antes de qualquer coisa, o caso de Jonilda, que será descrito a seguir, nos trás a sensação de que a sociedade paraibana e, por extensão, a sua imprensa, não olha pros lados, nem muito menos para sim, não manifestando interesse nem por eventos que seriam descritos pelos estatísticos como “pontos fora da curva”, ou seja, em linguagem comum, como exceção, como um dado que não confirma uma tendência. Quer um exemplo? Qual a chance de alunos de uma cidade do alto sertão da Paraíba vencerem uma olímpiada nacional de matemática? Se você tivesse que chutar, de 0 a 100 onde você localizaria essa possibilidade? Você gostaria de ver um caso desses noticiado caso ele acontecesse na Paraíba? Mas, o pior: no caso de Jonilda, nem depois de noticiada por uma revista e um jornal de circulação nacional o tema despertou interesse, a não ser de sítios e blogs sertanejos, o que eu confirmei depois de uma rápida pesquisa no velho Google.
Mas, quem é Jonilda Alves Ferreira e o que ela fez para receber essa atenção, afinal? Jonilda é professora de matemática em Paulista, cidade localizada no alto-sertão da Paraíba. Ela leciona na Escola Municipal Cândido de Assis Queiroga. Como essa professora de 44 anos foi descoberta para ser destaque na revista Época Negócios? Segundo a própria descrição do repórter Carlos Rydlewsk, enviado com um fotógrafo para Paulista: “Os estudantes do município paraibano, encravado no coração do semiárido nordestino, haviam se destacado em uma olimpíada de matemática, que mobilizou no ano passado 19,1 milhões de alunos da rede pública em todo o país. Os paulistenses conquistaram 22 prêmios. Foram cinco medalhas de ouro (um recorde para cidades desse porte), duas de prata, três de bronze e 12 menções honrosas.” Ao invés de dar destaque aos alunos e alunas vencedoras, como normalmente e não injustamente se faz, o repórter procurou o que era comum ao desempenho de todos eles.


O exemplo de Jonilda

E, em meio à aridez do clima, à secura da paisagem e à pobreza da região, tudo a fazer crer que dali não se formariam bons alunos, principalmente em matemática, surge a professora Jonilda a desmentir tudo isso, esses estereótipos que são cultivados pela grande mídia e até pelos próprios nordestinos. Jonilda prova que os nordestinos não são coitadinhos à espera de milagres ou da boa vontade de políticos e governos. No meio da seca, ela foi capaz de mostrar com seu exemplo que, mais do que “obras”, investir em educação, em boas escolas, em equipamentos, em formação e em bons salários para os professores dá mais resultado para as “vítimas” da seca do que essa obsessão oligárquica por “obras”. Não que elas não sejam importantes. Elas são pelo que podem viabilizar na mudança da face econômica, social e no bem-estar do semiárido, mas elas não vão sozinhas redimir ninguém.
Como eu disse, Jonilda é um ponto fora da curva a teimar contra uma realidade que pretende negar sua existência, ou reduzir seu efeito a uma insignificância estatística. Quantas Jonildas existem e quantas são capazes de, a partir de seu próprio esforço e de sua paixão pela docência, da dedicação pela formação dos seus alunos, transformar uma sala-de-aula, uma escola, uma cidade? Poucas. Mas, o que Jonilda prova é que isso é possível ser feito e, mais do que isso, que seus alunos são capazes de atingir a excelência do aprendizado. 
Mas, essas lições que Jonilda nos dá também com seu exemplo não podem ser universalizadas para todo o país sem um comprometimento, não apenas do poder público, mas de toda sociedade. E nós temos diante de nós uma grande oportunidade que foi gestada debaixo dos nossos pés: investir 100% dos recursos do Pré-Sal em educação, como defende o Ministro da Educação, Aloísio Mercadante. Isso, por si só, permitiria que o Brasil atingisse a meta de investir 10% do PIB em educação e se tornar o país que mais investe no setor no mundo. É disso que o Brasil e todos nós precisamos para que pessoas como Jonilda Alves Ferreira e um dos seus alunos, Wanderson Ferreira de Almeida, bicampeão nacional em matemática, deixem de ser “pontos fora da curva”, exceções à regra, para se tornarem maioria.



RC e os professores

Tenho certeza que a expectativa da ampla maioria dos professores era de que o histórico de desprezo dos últimos governos estaduais pela categoria finalmente ganhasse forma de uma política consistente de valorização, especialmente salarial, quando Ricardo Coutinho assumisse o governo. Não é isso que se verifica e, em muitos aspectos, o governo RC é acusado de retrocesso, como no caso dos planos de carreira dos professores estaduais e nas negociações de reajuste, quando sequer são consultados. Visitei as páginas das duas entidades representativas da categoria (Sintep e APLP) e o que lá verifiquei são críticas e lamúrias contra o atual governador, muito mais preocupado com a inauguração de obras e, obviamente, com sua reeleição. Para quem assumiu prometendo mudança, é o caso de procurá-las para sabermos onde essas mudanças se esconderam. Quanto a mim, continuo procurando, procurando... 
Quem sabe até 2014 eu ache alguma.

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