A TEIMA DE AGRIPINO E
JOAQUIM BRANCO II
Nessas terras vermelhas depois do
cemitério, antes da Gameleira, me foge o nome dado pelos ancestrais, existiu um
Engenho de Rapadura, acho que de propriedade do meu avô João Mendes, cuja
rapadura era doce como mel de abelha italiana, enquanto lá para as bandas do
Curralinho, havia um engenho idêntico do finado Kiel, cujo produto era travoso,
já que a cana era salgada.
Certo dia, Joaquim Branco disse
na Calçada de Joaquim Preto, na Rua da Igreja que conhecia pelo sabor as
rapaduras do Engenho de João Mendes e ado Engenho de Kiel, sendo mais uma vez
entabulado apaixonado debate entre ambos e um dos presentes, César de Olímpio,
para instigar mais ainda o debate, propôs uma aposta, oportunidade em que na
noite seguinte seria Joaquim Branco colocado à prova.
Mas Agripino era profundamente
estrategista e esperto, ele mesmo ficou de trazer as rapaduras, no entanto,
trouxe dois saquinhos de raspas das iguarias, porém, fraudando as regras, as
raspas eram da mesma rapadura do Engenho de João Mendes e o pior, Joaquim
Branco caíu no engodo montado, ao saborear a primeira raspa gritou: Esta aqui
só pode ser do Engenho de João Mendes, no que foi aprovado e aplaudido, mas
como um patinho, foi envolvido pelo golpe e quando provou a raspa da mesma
rapadura, com os olhos cheios de euforia de quem já venceu verberou: Ora Agripino, esta aqui é do Engenho Velho de
Kiel, eu não te disse que conhecia? Neste momento, Agripino com seu vozeirão
confessou o golpe e todos estupefatos fitaram meu Tio Joaquim Branco que
cabisbaixo, calou-se desmoralizado, já que seu paladar verdadeiramente não sabia
distinguir as rapaduras.
AGRIPINO E O BODE DE
VITÓRIA
Dona Vitória era a mãe de Odília,
esposa de Agripino e morava numa casinha ao lado do genro, aí na Rua do
Cemitério, bem de frente à residência dos meus avós Zoza e Rita, sogros de Dona
Biúca, mãe das minhas primas Iêda e Iépe e nos domingos gostava de comer bode, mas recomendava a Agripino que era quem fazia
a feira nos domingos, que tinha que ser um bodinho bem novo, sem odores, no
entanto, como Agripino gostava de conversar, se empalhou no caminho da feira e
quando chegou não havia mais bode, mas um açougueiro do Canoão disse que tinha
uma marrânzinha bem novinha (cabra nova) e então Agripino comprou dois quilos
para Vitória e chegando em casa os entregou à sogra.
Mais tarde Agripino foi ter com
Vitória e indagou sobre o bode e Vitória ainda farta de tanto comer, disse: meu
genro, vê se no domingo que vem você acha daquele bodinho, foi o melhor que
você já comprou, então Agripino revelou o ardil dizendo que aquela carne era de
marrã e votuperava para Vitória: “daqui para a frente eu compro o que tiver lá,
pois bode é bode e marrã é marrã e tudo é a mesma coisa”.
O BOCA-PIU DE AGRIPINO
Para quem não conheceu “boca-piu” era uma bolsa feita de palha
resistente e com uma alça para dependurar nos ombros, muitos dos nossos antigos
os utilizavam para fazer feira e aí em Presidente, bem aí no centro da praça
central ou Praça do Comércio havia um barracão, ainda alcancei essa construção
com vigas de madeira e coberta de telhas
onde os marchantes vendiam suas carnes e neste dia a feira virou um
alvoroço, pois Agripino depois de fazer uma sortida feira deixou o “boca-piu” embaixo da banca do meu Tio
Zezinho Mendes que era vendedor de carne de porco e ao encontrar com o Finado Arsênio
do Sapecado travou com este envolvente prosa, enquanto um descuidista vendo a
negligência de Agripino para com o seu “boca-piu”
repleto de carne e outros produtos o levou embora e quando Agripino deu
pela falta berrava a plenos pulmões, alarmando toda a feira: “CADÊ MEU BOCA-PIU, EU QUERO MEU BOCA-PIU,
ROUBARÚ O BODE DE VITÓRIA E A CARNE DE ODILA, CADÊ MEU BOCA-PIU, mas o
certo é que até os dias de hoje o “boca-piu”
de Agripino não apareceu e o Odila o culpou a vida toda pelo descuido, pelo
motivo dele ser um conversador e não prestar atenção nas coisas dele.
O DELEGADO ZOROASTRO
O inesquecível Zoroastro, pai de
João, de Carlão, do meu dileto João de Zoró, do ilustre contemporâneo de escola
em quem dei muitos bolos e levei também, o Nego Zó ou Zoroélio e Ivete, foi
Delegado de Polícia Civil da nossa querida cidade, quem não sabia? Pois foi.
Zoró tinha um jeep de cor azul e
o utilizava mais para passear com os meninos e dar carona ao povo do que para
condução debaixo de varas dos seus presos, aliás, acho que o Nobre Delegado
Zoroastro não chegou a prender ninguém. O Delegado Zoró estava mais para um
missionário, conselheiro, psicólogo do que para delegado, era o repositório da
mansidão, Dona Lôloi era mais agitada do que ele e escutei muitas vezes ela
gritar, pois por lá passava bem cedinho vendendo quiabos: “Levanta Zoró, já tá hora de tú ir, vai logo Zoró e Zoró paciente
respondia, vou já mulher”.
OMAR COLETOR
Omar Coletor era um cidadão das
bandas do lapão e trabalhava no Fisco Estadual. Omar era baixinho, gordo, de bigode
e possuía um carro que ainda hoje é o meu sonho de consumo, quase comprei um
idêntico e bem conservado esses dias na cidade de Sapé, aqui na Paraíba. Era um
caminhonete Chevrolet, de cores verde e
branco, ano de fabricação 1966, com aqueles Paralamas para fora e uma capota
novinha em folha de cor preta e se hospedava na Pensão de Cota, aí onde morou até
morrer Antonio Caroba. Omar além de hóspede, era pessoa do ciclo de amizades de
Caroba e Cota.
Eram ajudantes de Cota os filhos
de Dino e Dona Domingas, Cici, Vadinha, Ginú e Lourdes e após os trabalhos,
depois do almoço e do jantar, Omar Coletor saía passeando com eles pelas ruas
da cidade e todos orgulhosos, mas sempre corteses, cantavam dentro da caminhonete
de Omar Coletor, quebrando o silêncio do nosso pacato ainda arruado com a
alegria dos filhos de Dona Domingas e com o troar do reluzente e lindo
automóvel, cuja buzina era acionada por Omar quando passava pelas pessoas do
lugar. Uma simpatia Omar Coletor.
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