sábado, 16 de março de 2013


Promotor denuncia inércia da Polícia no caso Fernanda Ellen

Sob o título ‘Fernanda Ellen, inércia policial e uma família amargurada – Revelações’, o Promotor de Justiça Marinho Mendes Machado escreveu contundente artigo sobre o misterioso desaparecimento da menina de apenas 11 anos que no dia 7 de janeiro saiu de casa para ir buscar notas em escola do Alto do Mateus, Capital, e nunca mais foi vista.
Além de criticar duramente o trabalho de investigação da Polícia, no seu escrito, distribuído ontem via Internet, o Doutor Marinho Mendes faz “revelações que poderiam esclarecer a lastimosa ocorrência”. Tais revelações ele colheu junto aos pais e outros parentes de Fernanda.
“A Polícia não deu ouvidos para um local onde possivelmente a infante ainda esteja em cativeiro. Lá existem moradores clandestinos, é um prédio abandonado habitado por pessoas sem teto e onde um homem foi visto entrando com uma menina”, conta o Promotor.
Revela também que um “vigia suspeito, depois de escutado uma vez só pela Polícia, sumiu, escafedeu-se, nunca mais foi visto”. Marinho e colegas seus do Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH) estariam tentando localizar o tal vigia, que seria morador do município de Baia da Traição, litoral norte da Paraíba.
Outro questionamento do Promotor: “Se a menina foi vista saindo do colégio e o local onde a família sempre suspeitou que ela se encontra em cárcere privado ou lá tenha estado é de fácil acesso para quem sai do colégio, por que os investigadores não se moveram das cadeiras estofados e foram até lá?”.
Já no parágrafo seguinte, lembra o caso da adolescente de Bayeux que sumiu há dois anos em circunstâncias semelhantes e foi encontrada em Pernambuco, perambulando pelas ruas de Olinda, “após ser levada por um motorista de alternativo”.
Coincidentemente ou não, no caso de Fernanda também existiria um motorista de alternativo, mas o possível suspeito teria sido descartado pela Polícia após uma oitiva apenas.
“Deixaram para lá, numa demonstração de que ocorria aquilo que sempre temíamos: falta de diligências, de empenho, de busca do dado negado e esse dado pode se encontrar perto ou pode ter sido perdido por falta de alguém que fosse buscá-lo”, avalia Marinho Mendes.
Por último, ele se diz perplexo com a atitude do Doutor Cláudio Lima, secretário de Segurança Pública do Estado, que teria “jogado a toalha” no Caso Fernanda.
“A Polícia não chegou a lugar algum e agora oferece ‘prêmio’ a quem fornecer pistas de onde se encontra Fernanda Ellen, mas após dois meses e sete dias, Secretário, é confissão de desconcertante inércia ou falta de habilidade no trato das ações de inteligência, fenômenos de sua polícia”, arremata.

O que diz a Secretaria

Solicitei esclarecimentos da Secretaria de Segurança Pública sobre as revelações do Promotor Marinho Mendes. A resposta, elaborada pela Assessoria de Imprensa do órgão, veio na forma do texto que resumo a seguir.
***
Para apurar o caso foi designado um delegado em caráter especial, Aldrovilli Grisi, que nesse período realizou mais de 45 oitivas e requisitou exames em diversos equipamentos utilizados pela menina, tais como celulares de familiares e computadores (inclusive de amigas). Além disso, foram realizadas incontáveis diligências de campo para colheita de testemunhas e informações que viessem a contribuir para a elucidação do fato. Vale salientar que, para isso, uma equipe de 25 policiais civis treinados em ações de Inteligência foi designada para essa investigação.
De acordo com o delegado, até agora avanços significativos foram alcançados, mas toda a investigação tramita com sigilo e “declinar o resultado desse avanço é não só prematuro como também temerário para o desenrolar do próprio trabalho final, qual seja, localizar a menina Fernanda Ellen”. Assim, sobre as declarações do representante do Ministério Público, Grisi afirma que graças ao trabalho profissional da Polícia não houve vazamento de informações, o que justifica o desconhecimento do promotor a respeito dos fatos.
Além disso, durante todo o período de investigação, o secretário da Segurança, Cláudio Lima, tem realizado visitas periódicas à casa dos pais de Fernanda, a fim de deixar a família a par de todas as informações que podem ser reveladas sem prejudicar a ação policial ou por em risco a segurança do senhor Fábio e da senhora Elisângela. Cabe ressaltar, inclusive, que um servidor da pasta foi colocado à disposição da família quando o pai de Fernanda disse ter sido ameaçado.
Foi justamente dessas visitas e reuniões realizadas com a presença do senhor Fábio e da senhora Tereza Cristina Gomes, mãe de Rebeca Cristina Alves Simões, 15 anos, encontrada morta no dia 11 de julho de 2011, que surgiu a ideia, do próprio secretário, de oferecer recompensa financeira por informações completas que ajudem a desvendar ambos os casos. Vale salientar que o fundo financeiro para isso é proveniente de particulares, além de instituições e associações de servidores policiais, tais como Associação de Defesa das Prerrogativas dos Delegados de Polícia da Paraíba (Adepdel), Associação dos Policiais Civis da Paraíba (Aspol/PB) e Sindicato dos Delegados de Polícia Civil da Paraíba (Sindepol/PB).
Nesse contexto, oferecer recompensa não significa confissão de inércia. Faz parte de técnica investigativa sobre a qual existem estudos apontando eficácia para a elucidação de crimes. Tal medida é utilizada por órgãos de segurança brasileiros e de outros países, a exemplo da lista dos mais procurados do Federal Bureau of Investigation (FBI), disponível no endereço http://www.fbi.gov/wanted/topten, no qual há recompensas em torno de $100 mil. Diante disso, partir da premissa de que o FBI oferece recompensas significa que o renomado órgão de investigação norte-americano está perdido em suas ações?
 

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