sábado, 12 de novembro de 2011

Os Negros da Federal

                             
Eram os anos de 60 a 61 e a região de Presidente Dutra, o pessoal tem a mania de dizer Região de Irecê, não entendo o porque, já que nossa cidade é um celeiro de produção agrícola, de jovens inteligentes, repleta de mulheres lindas, sendo seus solos territoriais os mais viçosos, aos quais basta o beijo do arado para que neles tudo produza em abundância, suas terras como num milagre do criador, fazem brotar do seu seio as frutas mais saborosas, sendo que somente elas, de forma exclusiva, como se fora uma dádiva divina, é quem produzem as melhores pinhas de todo o mundo.

Pois bem, nessa região abençoada pela mão do grande arquiteto deste planeta, estava sendo nos anos 60 construída a chamada ESTRADA FEDERAL, ligando a cidade de Irecê a Xique-Xique. Seus trabalhadores eram todos homens de cor, originários da cidade de Serra Preta, ex-município de Ipirá, com quem faz divisa, assim como as cidades de Anguera, Riachão de Jacuípe e Ipecaetá e encravada no semi-árido do interior baiano.

Era o governador da Bahia naquela era o cearense Juracy Magalhães, nascido em Fortaleza e o líder daqueles trabalhadores se chamava “CATUABA”, mas seu apelido era “BRAÇOS DE PILÃO”, tamanha era a circunferência dos seus bíceps.

 Trabalhavam de forma árdua, o trabalho era extremamente pesado, torturante, a estrada foi aberta à custa da força braçal desses homens liderados por “BRAÇOS DE PILÃO”, os quais, nos finais de semana invadiam as cidades mais próximas, a exemplo de Central, Jussara e outras, e após ingerirem altas dosagens de aguardente, as destroçavam com a fúria de um vulcão. Os nativos eram simplesmente dizimados, matavam e acabavam as feiras no facão, dos quais eram exímios usuários, das comunas que tinham o azar de recebê-los.

Assim também ocorreu em Presidente Dutra. Num certo dia de feira naqueles vetustos anos de sessenta, “CATUABA” e seus liderados tomaram de assalto a feira de Presidente Dutra, espancaram várias pessoas, pisotearam bancas de cereais, foi um corre-corre dos diabos e ao afinal, fecharam todo o comércio.

Mas não ficaram satisfeitos, queriam ver o sangue jorrar nas ruas empoeiradas da Dutra, na acanhada praça da feira, onde de fartura só existiam buracos e o pó da terra massacrada pelo sol causticante e inclemente. Prometeram voltar no domingo seguinte, este é o dia da feira na minha terra, na minha Presidente Dutra.

Mas os homens de Presidente eram e são destemidos, desassombrados, ninguém lhes intimidam e com estratégia de mestre, montaram uma inquebrantável resistência, impossível de ser rompida. Dentre tantos heróis que iriam enfrentar os “NEGROS DA FEDERAL”, registramos o heróico “PEQUENO”, irmão de “QUILÔR”, esposo de Dona Nezita, pai de Aldair, Aldemar, Célia e Nuzi, “PEQUENO” era dono de um bar na entrada da praça, perto de onde fica “VANILDE DE ZARIÉS”, um homem maravilhoso, mas agudamente valente. ARNALDO PRETO (empregado de Pedrão de Cândida), foi um dos baluartes, derrubou muitos “NEGROS DA FEDERAL” á base de porrete.

Outro que se destacou na luta foi HERMELINO, pai de Menininho, de Mudeci e marido de Zilda Preta, morava no Sapecado e Zilda na Rua de Edson. Hermilino apunhalou muitos “NEGROS DA FEDERAL”, foi um estrago, uma carnificina, um açougue humano.

Inesquecível também os combatentes “NEQUINHO DE TOMAZ”, companheiro de Rôxa do Finado Baú e “SINHÔ GRANDE”, os quais lutaram ferozmente e venceram com sobra os temíveis “NEGROS DA FEDERAL”.

No final, foram contabilizados
três óbitos (três “negros da federal”) tombaram naquela luta insana e dezenas ficaram feridos, isto à punhal, faca peixeira, porrete e facão. O povo estarrecido se escondia nas roças, com medo de uma invasão dos negros que não tinham vindo.

Demonstrando heroísmo gigantesco, o finado HONÓRIO, irmão de João Velho, João de Venera e Wlisses, pai de Honorim, Neto, Farenaide e Tonho Velho, aboletou-se na boléia do seu velho chevrolet sem carroceria e juntamente com alguns voluntários atiraram os “NEGROS DA FEDERAL” em cima do velho caminhão e HONÓRIO foi deixar esses rebutalhos feridos no seu acampamento, o medo era Honório não voltar, dos "NEGROS DA FEDERAL" lhe matarem, mas ele foi e veio, um homem de brio e de incomparável coragem e além de tudo gente boa.

Hoje a ESTRADA FEDERAL, que na verdade era uma estrada estadual, chama-se ESTRADA DO FEIJÃO , A BR 052, que liga Salvador a Uibaí e foi asfaltada na década de 70, pelo então governador Antonio Carlos Magalhães.

Esses homens são heróis, merecem homenagens, é isto que esperamos dos que fazem o poder na Dutra, que até hoje, todos que a governaram não tiveram cuidado, projeto, políticas públicas e foram envenenados pelas intrigas, os fuxicos pequenos, que só atrasam essa terra maravilhosa, que precisa de um administrador que pense no outro, que compre as causas dos outros, que tenha um projeto social e não um projeto particular, dele e da família.

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