terça-feira, 1 de novembro de 2011

Carta ao governador Jacques Wagner - em busca da correção de uma injustiça‏


http://sn128w.snt128.mail.live.com/mail/clear.gif                                         Governador Jacques Wagner, sou baiano de uma cidadezinha lá dos grotões do Estado, fica na região de Irecê, chama-se Presidente Dutra, como o Senhor que é carioca de nascimento e baiano de coração, eu também sou um baiano, adotado pela Paraíba, esta terra maravilhosa que não exclui nem tem preconceito com o de fora, com o diferente, com o migrante. Sou Promotor de Justiça, talvez o mais conhecido do Estado, desculpe Sr. Governador a falta de modéstia, mas sou destemido, apaixonado, compromissado, idealista, o meu sonho é o seu sonho, é ter uma Bahia, uma Paraíba, um Brasil mais justo, mais solidário com plena inclusão social e este sonho acalentado é porque Sr. Governador, passei fome, sobrevivi com batata doce durante três vezes ao dia, nunca comi pão e carne, só às vezes, éramos miseráveis, não tenho vergonha de lhe dizer. Nunca vesti uma cueca, só o fiz aos 16 anos e só calcei um sapato aos 14, um kichut comprado no meio da feira de Presidente Dutra e tudo porque minha família estava lá, bem depois da linha de pobreza extrema.
                                      Governador Jacques Wagner, sei da sua luta, estudante militante, interrompeu seu curso de engenharia, refugiou-se na Bahia, foi operário no Centro Petroquímico de Camaçari e também sindicalista, um peregrino das causas e das lutas do povão, foi deputado federal por três vezes, Ministro do Trabalho e das Relações Institucionais e por último Governador da minha terra por duas vezes, sepultando o que tínhamos de mais atrasado, o "CARLISMO", que se leia "Memórias das Trevas".
                                       Governador, já que me apresentei ao senhor, me permita fazer-lhe um humilde pedido, uma súplica mesmo, eu tô lhe rogando pela correção de uma sentida, aguda, horripilante injustiça praticada contra um povo humilde, simplório, pacifista, mas sem nenhuma consciência, sem nenhum esclarecimento à época, esse povo governador Jacques Wagner, é o povo de Presidente Dutra, de Irecê, de São Gabriel, de Uibaí.
                                     Eu era ainda menino Senhor Governador, com os pés descalços, o tronco desnudo, com a barriga vazia, a vista turva, eu tinha apenas 10 anos de idade, mas já percebia a inaceitável violência, a intragável injustiça, violenta, grosseira, arrogante, impossível de ser deglutida, isto ocorreu há mais de quarenta anos, mas me lembro como se fosse hoje Sr. Governador, tenho tudo gravado na minha mente.
                                    Pois é Governador Jacques Wagner, adorei o Senhor ter vendido a sua barba à gillete para obras sociais na minha gloriosa Bahia, com apenas 10 anos de idade, filho de uma família paupérrima, vi os tratores do CARLISMO, pois era Antonio Carlos Magalhães o governador de então, invadir a pequena terra do meu falecido pai, um baiano honesto, que chorava à noite vendo os filhos com fome, chorava escondido eu sei, o sertanejo tem vergonha de chorar em público, vi comovido e estático, com o choro engasgado, o do interior tem vergonha de chorar em público, os tratores de ACM jogaram nossas plantações, nosso pé de umbú para os lados, abrirem buracos de fora a fora como se diz lá e fez isto com centenas de pequenos agricultores, estava sendo construída a estrada de Irecê a Uibaí, mas o pior de tudo, o poderoso governador foi desonesto, desumano, implacável, ferino, bestial, cruel, ímprobo, SIMPLESMENTE NÃO INDENIZOU OS PEQUENOS AGRICULTORES, foi um esbulho possessório vergonhoso, escandaloso, efetivado por um governo autoritário, de exceção, contra pobres e impotentes agricultores.
                                      Governador, me recordo de José Pedro, pai do meu padrinho Arsênio, ele fez até uma música sobre a estrada, parte dela dizia "Achei bonito o serviço do governo, achei bonita a estrada federal e José Pedro já ficou de lero-lero uai, oi de lero, achei bonito os tratores trabalharem". Na verdade a estrada é estadual e “de lero-lero” significa sem nada, já que a única coisa que possuía, sua terrinha, ele havia perdido, a estrada de Antonio Carlos Magalhães usurpou, extorquiu, confiscou, esbulhou suas terras.
                                      Governador, indenizar as famílias dessas vítimas seria uma medida de altivez, vertical, grande, nobre, seria corrigir um ato de força, seria lavar a honra desses homens, seria uma homenagem às suas famílias, uma vez que eles com certeza, na sua maioria não mais se encontram entre nós.
                                     Governador, faça isto e se tornará maior ainda, corrija a injustiça perpetrada e eu, assim como todos os baianos, aplaudiremos a sua atitude, que além de legal, se transformará num dos mais elevados atos cristãos praticados por um governante.
                                         Governador, fica aqui a minha humilde súplica, atenda-a, não frustre um admirador, um fã.

                                         (A presente crônica foi remetida ao governo da Bahia, nesta data (31.10.2011), assim que a resposta chegar, publicaremos a mesma).

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