domingo, 15 de setembro de 2013

AUTORIDADES FEDERAIS PERSEGUEM “BACALHAU”.

“Bacalhau” é um amigo meu há quase trinta anos, ele é um daqueles caras que como eu nasceram ferrados, cuja fortuna de nosso pais era um dia com uma noite no meio e de fartura, somente as mais variadas necessidades, “Bacalhau” não pôde se formar, se educar como os filhos dos poderosos, das autoridades deste Brasil esquizofrênico, ele teve que vender sua força de trabalho logo cedo, se transformando num destemido “pião de trecho” como se diz na linguagem dos sofredores, o trecho é a universidade da pobreza, pois é lá no trecho que vende suas forças às construtoras, cavando valetas, descarregando carretas, abrindo alicerces e outras tarefas manuais insólitas, brutais e extremamente desumanas, mas é lá também que ele aprende um pouco da malícia do mundo, é no trecho que ele começa a ver as diferenças selvagens e ignominiosas deste Brasil insensato. Lá no trecho, os engenheiros andam de automóveis fechados e os “pião” em cima de carrocerias de caçambas ou de caminhões  surrados, é lá no trecho que ele sente a mais desconforme de todas as violências, a desigualdade humana. Os engenheiros e encarregados comem em pratos, em mesas de refeitórios, o “pião” come em calotas de caminhão achadas na beirada do trecho e bebem água nos filtros que a “melosa”, aquele caminhão com óleo e graxa que roda o trecho substitui, debaixo de árvores, na beirada do trecho.
Bacalhau é honesto, nunca furtou, um gigante no trabalho, não tem medo de serviço algum, é lutador, fala a verdade, tem uma prole composta de mulher e seis filhos, todos menores, ele nunca matou, nunca feriu um cidadão, nunca se corrompeu, até porque político, administrador nenhum deste país, precisa corromper um “pião” de trecho, mas somente aqueles que sangram as veias desses brasileiros honrados, mas excluídos, atirados às margens da inclusão social.
Pois bem, Há 15 anos, “Bacalhau” construiu uma pequena e franciscana barraca às margens da BR 230, já no município de Cabedelo, logo depois de luxuosíssimos condomínios horizontais, dizem que são os mais caros do Estado da Paraíba e dessa barraca “Bacalhau” retira o seu sustento, o seu pão de cada dia, de forma sofrida, agudamente cansativa, da mulher e dos seis filhos, e como já dito: “Bacalhau” não vende drogas, nunca nem viu a abominável “pedra”, não é usuário de nenhuma substância proibida, mas parece que ser honesto neste Brasil cruel, preconceituoso e agudamente insensato não vale nada, estão de forma desapiedada e nojenta perserguindo “Bacalhau” e para vergonha nossa, eu estou inconformado, são autoridades e instituições que deveriam acolher “Bacalhau”, mas querem é atirar “Bacalhau” na boca da maior de todas as desgraças, a boca dos piores dos infernos, a do crime, pois ele me disse: “Marinho, se tomarem minha barraquinha eu vou cometer suicídio ou vou assaltar”, eu solicitei calma, muita calma, mas ele está desesperado, triste, depressivo.
A perseguição abjeta teve começo com a presença de dois Patrulheiros da Polícia Rodoviária Federal, que paramentados, armados e transportados por uma potente viatura, os intimou a deixar o local sob as penalidades legais, mas como ele não tinha para aonde ir, não pode atender a intimidação, mas logo depois, uma notificação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes aportou lá na barraca, bem na hora que os trabalhadores da área compravam o almoço a “Bacalhau”, quase levando este a óbito.
As coisas não pararam por aí,  enquanto insolentes corruptos rondam a “res pública” com ganância e avareza, a POLÍCIA FEDERAL BRASILEIRA mandou dois dos seus agentes na Barraca de Bacalhau, os dois policiais de escol, levaram uma intimação para “Bacalhau” comparecer à presença de ilustrado delegado federal e ele foi, não é ladrão, não é traficante, não é “publicano” e o delegado extremamente descortês, ameaçou “Bacalhau” de tudo, o interrogou e qualificou por violação ás leis deste berço esplêndido, com exclusão dos “bacalhaus”, que lhe pareceu um bandido, por retirar de uma barraquinha às margens da BR.

O Inquérito Policial Federal foi devidamente concluído, pasmem, e foi remetido á Justiça Federal e agora verbero com todas as forças o que mais me doeu, a Procuradora da República de nome ILIA denunciou criminalmente Bacalhau por violação ao art. 22, da Lei 4.504, de 30 de setembro de 1964, o nosso Estatuto da Terra, não estranhem, ocupar dez metros quadrados, segundo a sapiente visão da representante do ministério público federal, enquadra-se na reforma agrária e assim, deveria ela pugnar pela desapropriação para proteger “Bacalhau” e sua família, uma vez que a barraca de “Bacalhau” cumpre a função social prevista na nossa Carta Magna e mais ainda, que O DNIT, A PRF, A PF e o MPF, tirem os argueiros dos olhos e enxerguem que os bonitos e caros condomínios, esses sim, invadiram a faixa de domínio da estrada, construindo lustrosos jardins, com plantas que geram perigo aos condutores, mas que impedem essas ínclitas autoridades de descortinar a ilegalidade, de processarem os ricos proprietários, Já que é muito mais fácil correr atrás de “Bacalhau”.      

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