segunda-feira, 16 de julho de 2012

PRESIDENTE DUTRA DOS MEUS TEMPOS


Lembro-me dos ensinamentos de ÉMILE DURKHEIM quando a recordação de Presidente Dutra enche o meu já velho peito, seus ensinamentos quanto à Sociedade Mecânica se encaixam como uma luva à sociedade do meu tempo, uma vez que conhecíamos todas as pessoas da comuna, seus costumes, seus hábitos, era uma sociedade solidária, os homens e mulheres ainda comiam em gamelas, o café era bem elaborado nas chaleiras de ferro, as refeições não passavam de feijão e para alguns mais abastados feijão e arroz, e quando se abatiam criações, a exemplo de bodes e suínos, pequenas porções eram enviadas para os vizinhos e parentes, era uma sociedade atrasada, mas não tínhamos homicídios, estupros, assaltos, tráfico de drogas, o dinheiro? Ah, era somente um detalhe.
A juventude não conhecia roupas e sapatos de marca, o telefone e a televisão ainda não haviam dados o ar da graça em nosso querido torrão e o celular era coisa de ficção, se é que alguém já sonhasse com essas novidades naqueles tempos. Sim, não havia água encanada e as mulheres transportavam o precioso líquido em suas cabeças, em latas de querosene de 20 litros, cujos paus (colocados no meio da lata para melhor se levantar a mesma) eram caprichosamente colocados por marceneiros da urbe e até fundos de madeira muitas delas ostentavam, para durarem mais.
Era a sociedade mecânica do Velho Durkheim, onde homens e mulheres se conheciam, era a sociedade de Karl Marx, onde todos se reconheciam nos seus próprios trabalhos, nas suas humildes produções, ainda que artesanalmente.
Mas foi Marx também quem disse: “tudo que é sólido desmancha no ar” e Durkheim endossou ao pensar a sociedade orgânica, aquela impessoal, individualista, em que a criação do dinheiro e da própria cidade transformam o homem em alguém que não precisa mais comer na gamela e nem necessita de um pedaço da criação abatida, agora ele pode comprar, não necessita mais conhecer quem produz algo, tudo se desmancha, as famílias, a religião, as empresas, temos agora uma sociedade líquida, foi Zygmunt Bauman quem cunhou esse conceito ao escrever a obra “Modernidade Líquida”, pois, como previu Marx tudo se desmanchou, transformando-se a sociedade com conceitos e instituições solidificadas em algo líquido, desmanchado.
Então indago: qual a sociedade boa? A mecânica, inicial, onde praticamente não existiam crimes e nem havia a competição desleal, onde o dinheiro era apenas um detalhe ou a orgânica, onde a impessoalidade é a marca, o egoísmo, o individualismo desenfreado movido pelo dinheiro e pela cidade que torna o tempo mais veloz e os espaços mais curtos a cada dia, dando azo a se verberar que estamos no tempo da velocidade? Respondam, por favor, a do celular, Iphone, a da internet ou a da gamela?
Mas Bauman ecoa que tudo se encontra líquido, como a dizer que estamos atrás de um novo conceito de sociedade, como a dizer que não podemos censurar o que está acontecendo, já que não existe uma base científica, sociológica e antropológica para afirmarmos que o certo era no tempo dos nossos pais, pois o que acontece agora é que pode ser o certo e aí temos outra questão: ficaremos perdidos até quando em busca de um novo conceito de sociedade? É um grande dilema.
Galego Aboiador, um dos maiores cantadores nordestinos, nascido aqui bem pertinho em Itabaiana, em sua música “ORIGEM DO MEU SERTÃO” ele conta que ao passar um tempo fora se espantou com as mudanças trazidas pelo tempo e que mudaram de forma radical a sua própria casa, e essa perplexidade do homem daquele tempo cabe aqui e serve para a Presidente Dutra dos meus tempos e de agora, vejam trechos da sua música: “Lá não vi o lampião que pai à noite acendia, a lata de querosene também estava vazia, deram fim ao candeeiro por causa da energia, o pote de água fria trocaram por geladeira, mas falta aquele gostinho da aguinha da biqueira, gelada em potes de barro feitos nas mãos da louceiraaaa! Lá não vi mais a chaleira que mãe fazia café e nem o chifre de boi que pai botava rapé, coisas que o jovem de hoje se vê não sabe o que é! Lá não vi mais o tropel dos burros no tabuleiro, nem os estalos dos relhos pros burros andar mais ligeiro, resta somente a saudade no coração do tropeiro! Meninos da minha terra não querem brinquedos de osso, coisas que a gente tinha sem gastar nada do bolso. Da minha vaca de osso não achei nem os retratos e os meninos de hoje não querem brinquedos baratos, compra um carro da estrela, sacode o outro no mato. No lugar do oratório que mãe fazia oração, botaram no seu lugar uma grande televisão....
É isto que resta nos corações dos saudosos, dos sonhadores, dos exilados da terra que amam em busca da sua estabilidade. Um abraço ao grande Paulo Novaes, grande figura da minha cidade.

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