Marinho,
Você conseguiu traduzir de maneira sublime a monstruosidade daquelas duas criaturas que não merecem, definitivamente não merecem, ser tratadas pelo nome de "mãe".
Estava eu substituindo cumulativamente em Jacaraú e realizei o Júri das infelizes.
Tive que debater com um advogado mercenário e antiético. Foi trabalhosa a condenação de ambas. Não é com sorriso nos lábios que se coloca alguém atrás das grades, assim como também não é com lágrimas nos olhos.
Lágrimas nos olhos fiquei por vários dias a imaginar o sofrimento do recem nascido naquele cair da tarde. Não houve naquela casa quem se alegrasse com o nascimento daquela criança: nasceu sem o direito de chorar, seu cueiro foram trapos que serviram para sufocar-lhe; seu berço foi o fundo de uma gaveta de armário e seu túmulo foi o lamaçal de um açude.
A Agrinésia, depois de dar à luz, seguiu tranquilamente para a escola. Como se nada tivesse acontecido. A Biuzinha chegou a dizer no dia seguinte que o trabalho de macumba feito por "Sarita" (você sabe de quem se trata) tinha surtido efeito, de tal modo que o "caroço" de Agrinésia tinha desaparecido.
A cena horripilante aparece-me à mente toda a vez que me lembro do fato. SAber que todos os voluntários alumiaram o açude na vã esperança de encontrar o menininho vivo. Ilusão, ambas sabiam desde sempre que a criança estava com Deus.
Olha Marinho, tenho para mim que vamos levar em nossas mentes para sempre casos como estes, como que um fantasma a nos perguntar insistentemente o motivo pelo qual Deus ainda não desistiu da humanidade.
Abraços para ti,
Ana Maria França.
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