sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O Crime de Biuzinha e Agrinésia em Pedro Régis

Era o ano de 2004 e a vida corria tranquila e sem maiores contratempos na pacata cidade de Pedro Régis, o antigo Distrito de Retiro de Jacaraú, recém emancipado e transformado em cidade, uma terra prenhe e repleta de coisas boas, que basta o beijo do arado, para que nela tudo dê, tudo produza. O seu povo além de acolhedor é profundamente pacífico, civilizado e o antigo Distrito da terra da Castanha do Mel e do Beijú, já tem ares de cidadezinha do interior, bem organizada, bem limpinha, bem bonitinha, agudamente agradável.

Mas naquele ano de 2004, uma tragédia nunca vista naquelas plagas de povo tão correto, iria se abater sobre a terra de Pedro Régis e chocaria toda a comuna, toda a opinião pública do povoamento, é que, as aguerridas e compromissadas Conselheiras Tutelares daquela Urbe, Cristina e Geane, grandes e exemplares mulheres, começaram a receber em seus telefones móveis, uma horripilante e tocante denúncia: que na Rua Miguel Braz, que vem a ser a Rua da Delegacia, na casa de nº. 61, onde residiam Dona Severina, conhecida por "Biuzinha" e sua filha Agrinésia havia nascido uma criança e a mesma não tinha aparecido, o recém nascido tinha sumido, dizia um dos telefonemas para a Conselheira Cristina, que Dona Biuzinha teria sido a parteira daquele parto que iria tomar proporções impensáveis na opinião do povo simples do Retiro, agora a cidadezinha de Pedro Régis, que de tão tranquila, ao andar pelas suas ruas, temos a impressão que por ali o tempo parou.


Era uma madrugada fria do dia 31 do mês de maio do já distante ano de 2004, quando o nascimento do infante ocorreu mediante parto improvisado, Biuzinha mandava a filha fazer força e que aguentasse as lancinantes dores para que a vizinhança não ouvisse e viesse a tomar conhecimento do parto clandestinho, porém, além da madrugada fria, curiosos e notívagos que por ali passavam, também testemunharam o parto que iria abalar a também recém nascina Pólis.


As denúncias choveram no dia 01 de Junho, os telefones de Geane e Crisitina tocavam a todo instante, elas inexperientes ainda nas gratas funções de Conselheiras, ficaram atordoadas, mas uma delas, aliás as duas, tiveram um lampejo de inteligência: reuniram o Conselho Tutelar e colocaram o assunto em mesa e o resultado unânime foi: levariam o grave ocorrido ao conhecimento do Promotor de Justiça, Dr. Antonio Barroso Pontes e assim o fizeram, já na manhã do dia 02 do mês de São João, de São Pedro e de Santo Antonio, no mês das fogueiras e de tantas tradições para nós nordestinos.


O Promotor acionou o Delegado de Polícia, o diligente Delegado Comissionado Tôta, o qual intimou Biuzinha e Agrinésia e devidamente pressionadas, mergulhadas no drama da culpa, com almas conflituosas e maculadas pela tremenda injustiça cometida confessaram: "Agrinésia havia dado à luz a uma criança, a mãe foi a parteira e logo após cortada a placenta, única ligação que unia mãe e filho, pois ele sempre foi indesejado e um intruso nas vidas de Agrinésia e Dona Biuzinha e por isto devia morrer, enrolaram em panos sujos, colocaram na gaveta de um guarda roupa e dois dias após, foram pela tardinha, num cortejo diabólico e desumano, as duas, levando a criança dentro de uma sacola de supermercado, onde no Sítio Ibé, há dois quilômetros do antigo distrito, onde em épocas vetustas já funcionou um engenho de fabricação de rapadura ou aguardente, com suas mentes aterradoramente confusas e obnubiladas pelo sangue inocente do infante morto fria e angustiantemente covarde, em cova rasa, depositaram o incômodo pacote e nem atiraram terra sobre ele, talvez achassem que não merecia, cobriram com folhas, talvez também para que animais o devorassem e desaparecessem os vestígios.


Após a confissão, outro cortejo, este agora composto pelo Delegado Tôta, pelas Conselheiras Cristina, Geane e outrros voluntários, se deslocaram ao Sítio Ibé, em busca do insólito pacote, alumiavam com faróis de carro, lanternas e até fogueiras e fachos, até que por volta das 20h00 do dia 02 de junho, um morador deu bem em cima do cadáver da criança, um cadáver desconhecido, um anômino, um número, pois nem nome, nem batismo pode merecer, a mãe e a avó, o julgaram indignos de tais encômios, ele era peso demais para suas vidas e nada merecia, só a morte, mediante asfixia, como atestaram os peritos médicos-legais.


Após decorrido todo essse tempo, o processo transitou em julgado para Dona Biuzinha, a qual já se encontra presa no Presídio Feminino Bom pastor na Capital do Estado para cumprir a condenção de sete anos de reclusão e quanto a Agrinésia, solta, aguarda julgamento do recurso apelaltório da sua senteça de catorze anos de prisão.


Até hoje, nem Dona Biuzinha e muito menos Agrinésia revelaram os motivos da morte do inocente, talvez seja um segredo tumular e nós permaneceremos sempre a indagar: até quando esses dramas da alma humana continuarão acontecendo? que Deus misericordioso e santo, tenha pena dessas almas que vivem na escuridão do mal e no submundo pantanoso e enlameado do crime, nas profundezas das trevas do pecado, e que a vítima indefesa possa perdoá-las e rogar por elas, amém.

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