sexta-feira, 11 de julho de 2014

Lixo no Japão
A imprensa nacional destacou o comportamento da torcida japonesa, que recolheu o lixo por eles produzido após o jogo, citando o fato como exemplo. Se conhecessem o Japão, não ficariam tão surpresos. A concepção de lixo no Japão é completamente diferente da ocidental, principalmente da brasileira: lá, lixo em lugares públicos é um assunto pessoal: cada um cuida do seu. Aqui, é problema do governo. O Japão não aceita trazer estrangeiros para cuidar de serviços que ninguém quer fazer; assim, o poder público, no máximo, recolhe o lixo nas casas. O resto é por conta do cidadão. Não se vê lixeiras nas ruas e praças no Japão, uma queixa comum dos turistas estrangeiros no Tripadvisor. Nunca vi ninguém varrendo rua, nem mesmo uma máquina, comum em outros países desenvolvidos. Uma turista indiana reclamou porque foi impedida de jogar uma garrafa de plástico em uma lixeira de um quiosque: aquela lixeira era só para o consumo do quiosque. Se alguém compra um salgado e quer sair andando, logo é avisado – tem que comer ali, jogar o lixo naquela cesta, e só depois continuar o passeio. No metrô e ao lado das vending machines há apenas um recipiente para garrafas plásticas usadas. Nos estádios e lugares de diversão, todo mundo faz o que a torcida japonesa fez no Recife: recolhe e leva às lixeiras, não antes de separar devidamente plásticos, papel, orgânicos, etc. No Brasil, já vi gente racionalizar até o ato estúpido de jogar lixo na rua, dizendo que os varredores precisam de trabalho. Mal imagina o cabeça-de-vento que o custo daquela varrição sairá dos impostos que ele paga, e que poderiam estar sendo utilizados para dar educação, saúde, um futuro melhor para aquele varredor, e mais segurança pública para todos. O Brasil se gaba de reciclar quase todo o alumínio, mas este índice é mais uma vergonha, porque é alcançado devido a miseráveis que adoecem revirando imundícies para extrair as latinhas. O Japão recicla praticamente tudo, e ninguém revira lixões: o próprio cidadão separa tudo. No Brasil a coleta seletiva é uma enganação – pessoas conscienciosas dividem os plásticos, papéis, vidros, apenas para o caminhão de lixo misturar tudo de novo. Até na má educação patenteiam-se as diferenças culturais. No Brasil, o malcriado que quer se livrar de uma garrafa plástica ou latinha a atira o mais longe possível, para que fique ali poluindo por milênios, talvez. O japonês mal educado, quando não está sendo observado, abandona sua latinha, copo de papel ou garrafa perfeitamente em pé, em um lugar visível, como um banheiro público (que por sinal não tem lixeira também), em um apelo envergonhado e silencioso para que alguma alma caridosa recolha aquilo. Próximo a uma área boêmia, um desses, aproveitando-se da escuridão, deixou uma garrafinha de plástico, em pé, no muro de uma vendinha. No dia seguinte o dono da venda pregou a garrafinha ao muro com fita adesiva, em uma resposta eloquente e silenciosa: vai ficar aqui até você voltar e recolher.

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