Um
dos maiores textos da Filosofia, de autoria do Pós-Socrático Platão, mas atribuído
a Sócrates pelo seu discípulo e admirador, nos conta que numa caverna viviam
pessoas amarradas, de pé, que só podiam olhar para a frente. Atrás, uma pequena
lareira possibilitava uma simplória penumbra e tudo o que passava por trás dos
viventes amarrados, projetava suas sombras que eram vistas na parede da frente,
único lugar para onde eles podiam volver seus olhares.
Conta-nos
o texto, que certo dia um dos habitantes da caverna conseguiu se soltar e com
muito esforço escalou as paredes da caverna e veio ao nosso mundão, porém,
quando em contato com os raios solares, gritava de forma terrível com dores
horrorosas, a claridade era tanta, que quase lhe cegava, até que se acostumou
com as luzes. Mas aí quando passou a ver gente, plantas, animais, se assombrou
com aquilo, um lancinante medo tomava conta de suas entranhas, pois até àquela
altura da sua vida, só tinha visto sombras, nunca havia tido nenhum contato com
as luzes.
Este ensaio filosófico tem o condão de mostrar o atraso medieval, as trevas em
que o mundo e seus habitantes viveram mergulhados durante incontáveis anos,
durante eras e mais eras, mostrar o horror que temos do novo, de enfrentar
aquilo que desconhecemos.
Pois
é este sentimento de ainda viver nas sombras, na caverna que nossa assalta,
quando ouço o anúncio das atrações das festas de padroeiro e padroeira e em
certos momentos chego a ser intolerante e ser contaminado por uma incontida
raiva da imprensa que anuncia atrações com estardalhaços, induzindo o povo a ir
a esses tristes eventos, que contamina o povo de uma pseudestasia, ou seja, um
mentiroso, falso sentimento de alegria.
O
povo por sua vez, dar uma demonstração inequívoca que apesar de todos os
avanços, uma grande parte de nossa população ainda vive na caverna, só ver
sombra, ainda não enxerga luzes, pois chegam a exigir dos governantes a
contratação de milionárias atrações, não conseguindo vislumbrar que o dinheiro
que esses “artistas” levam de suas cidades, é prejudicial às crianças, aos
adolescentes, aos adultos, aos idosos, pois tal dinheirama poderia ser aplicada
na melhoria da qualidade da saúde, da educação e de políticas públicas para
todos, de forma que o povo da escuridão, para mim, é o maior culpado por tão
atrasados acontecimentos.
A Igreja Católica Apostólica Romana também possui a sua culpa, a sua tão grande
culpa, já que com a credibilidade que ostenta, era para se voltar contra esses
eventos danosos, que geram atraso e cada vez mais trevas, mais falta de luzes,
era mesmo para excomungar quem os contratam, quem os patrocinam, era para
amaldiçoar quem leva vantagens e lucra manipulando a inexistência de
consciência daqueles que ainda permanecem nas cavernas.
Os Senhores Prefeitos, ilustrados alcaides das nossas empobrecidas cidades
nordestinas, esses muitas vezes também ainda habitam as cavernas do tieteto e
adoram as festanças pagas com o dinheiro da miudeza que ainda os aplaudem do
chão, enquanto eles suspensos em tablados chamados de camarotes, com seus egos
inflados de sombras e da mais mediava das arrogâncias, pensam em estarem
fazendo boas coisas e sem remorso, mandam abrir a mala e espalhar som, esses
haverão de pagar caro pelas suas omissões e até pelas lamentáveis ações: “o
estelionato dos que vivem nas trevas”.
E as bandas: Com essas tenho profunda bronca. Nunca comprei um CD ou DVD das
mesmas, jamais fui a um show delas, pois são vazias, agudamente agressivas,
pornográficas, pois, apesar de também viverem nas cavernas, possuem plena
consciência de que aquela massa que lhes prestigiam, também está mergulhada na
mais tremenda escuridão e por isso mesmo palavras chulas, expressões de baixo
calão, apologia à traição, incentivo ao sexo fácil e irresponsável, são os
temas das suas aleivosias, que misturadas a uma parafernália ensurdecedora de
som sem poesia, sem música, sem apuro artístico, são lamentavelmente chamadas
de música, mas para quem somente ver trevas. “mulher não trai, mulher se
vinga.., foi num risca faca...; mulher cachorra e por aí vai o triste
espetáculo de destruição dos sonhos daqueles que idealizam uma sociedade de
luzes.
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