PRESIDENTE
DUTRA, ISTO, AQUILO O OUTRO
Os
caixões de defuntos
Nos meus verdes, “dourados”
e sofridos anos da Dutra, não existia ainda uma loja funerária para vender
ataúdes e quem atendia a demanda era o Oficial de Marcenaria Antonio Pequeno e seu grande auxiliar, o já
meio oficial Bógue, filho de Dona Chiquinha e Seu Raulinho (Quipão), mas tudo
era feito de forma muito amadora, Antonio Pequeno e seu ajudante gostavam mesmo
eram de fabricar móveis, principalmente
para dezenas de noivos da cidade e região que encomendava a cama, o
moringueiro, o guarda louça, a mesa e as cadeiras
Recordo-me, pois
morávamos relativamente perto de Antonio Pequeno, quando ouvíamos o ribombar
das marteladas em horas mortas da madrugada ou em horário avançado da noite,
era sinal que alguém da Dutra havia passado para o outro plano, como se diz lá:
“viajou para a cidade dos Pés Juntos), já que os golpes de martelo que varavam
a noite, comunicavam a todos nós, que
Antonio Pequeno e Derme, esse é o nome de Bógue, irmão de Amarildo, estavam
fabricando uma urna funerária para um
conterrâneo cuja existência havia sido extinta e nesse tempo, a vida falecia
por diversas causas, doenças, parada cardíaca, mas nunca por homicídio, esse fenômeno
era desconhecido naquelas paragens.
Os
velórios
Os velórios na Dutra
tinham um misto de contradição, pois nas vigílias do falecido existiam choros
copiosos e verdadeiramente sentidos, mas também tínhamos sonoras gargalhadas
originárias dos contadores de “causos”, piadistas e humoristas, os quais,
durante todo o velamento do expirado, consumiam garrafas e mais garrafas de
aguardente, pitu e serra grande eram as preferidas, enquanto as demais pessoas
que iam dar seu último adeus e não bebiam, tomavam café sem parar durante toda
a noite.
Mário do Velho Lourão,
Torquato, Júlia Caroteira e suas filhas Biinha (Laudelina), Maria e Elvira,
eram presenças obrigatórias nas lucubrações derradeiras das vidas de todos os presidentinos
que deixavam o plano terrestre. Uns contavam estórias, piadas, também diziam ditados
e tiradas de humor, enquanto Júlia e as filhas, ao ingerirem aguardente,
iniciavam o canto mais fúnebre, mais lutuoso, mais sepulcral e até agourento
que já pude ouvir e presenciar.
Os
adjutórios
Os adjutórios eram verdadeiros
mutirões de solidariedade do povo da Dutra e sempre aconteciam em tempos de
plantação, principalmente para capinar as terras de alguém que havia adoecido e
também para viúvas, cujos maridos haviam viajado para a Cidade dos Pés Juntos e
o mato tomava conta das suas roças. Outros adjutórios ocorriam para construção
de casas, me lembro de ter participado de vários adjutórios, seja capinando,
seja fazendo barro para encher os espaços das casas de taipa de Júlia, de Mané
de Júlia aí nas Barrocas, perto de João Miranda.
Era divertido, meu
Compadre Lourão de Alfredo já enlevado pela pinga dizia “trabalho de menino é pouco, mas quem perde é louco” e nas capinas o
povão humilde e muito bom, competia para ver quem capinava primeiro sua carreira
de milho. Eu ganhei muitas dessas disputass e depois tinha o almoço feito pelas
mulheres, era tudo muito bom, como era legal conviver com gente sem maldade e
aquele povo ainda não estava contaminado pela cegueira do ter.
A
melhor partida de futebol da Dutra de todos os tempos
A mais emocionante e
sensacionalíssima partida de futebol acontecida nas plagas presidentinas foi
nos anos 70, creio que em 1977, entre o arrasador e festejado Nacional de
Central e o Ajax de Dr. Juan. O campo do Real de Manoel Sobrinho recebeu a maior
lotação de todos os tempos, eram milhares de pessoas se espremendo em redor do estádio sem qualquer infra-estrutura. Os
jogadores e árbitros não tinham nenhuma proteção, nada os separavam da agitada
e fanática torcida, puxada por Adelino, pai de João Bifinho, Laércio, Cecília e
Djalma.
O nosso querido Ajax de
Dr. Juan teve como técnico Manoel Sobrinho e na linha formou com Lelé (o melhor
goleiro, nunca tivemos outro igual), Galêgo do Leônico de Salvador, Fábio da
Grama de Uibaí, Zequinha do Campo Formoso,
Areia, Zé e Wilson de Tiotista (dois irmãos simplesmente geniais), Renatão (o
nosso Roberto Dinamite), Zé de Helena (um filho de Central criado em Xique-Xique
e filho de Dona Helena Minréis de Central), Aristóteles da Quixabeira e Aliomar
do Galícia, cunhado de Dr, Juan.
Por sua vez, o afamado
Nacional de Central entrou em campo com a seguinte escalação: Monteiro (um
goleiro espetacular, invejável), Jipão, Dimas da Gameleira, Gessé, Rosalvo,
Agamenon, Zé de Nita, Dazinho e Domingos do Roçadinho, Reinivaldo, Ailton,
Alcione e o já veterano mas inigualável Duão.
O resultado final 2X2,
foi conquistado com muita garra e extremada determinação, Aliomar era o
comandante e dava força ao time do Ajax que durante toda a partida mostrou-se
inferior ao time de Central e esteve sempre atrás no placar. Zé de Helena fez o
gol do empate em 1X1 e Galêgo do Leônico, batendo uma falta, fez o gol do
histórico empate. Eu tava lá, atrás do gol de Monteiro, a falta foi batida com
muita técnica e Galêgo do Leônico fez a bola passar sobre a barreira e entrar
no canto esquerdo do gol do grande goleiro, pois era uma bola indefensável, o arco
defendido por Monteiro é o debaixo, do lado da entrada do campo, portanto, o
lado esquerdo fica para as roças, tenho que detalhar, pois é história pura e
sou testemunha do fato.
Meus
abraços:
Hoje mando fraternos e
calorosos abraços para Goleiro e Pedro de Antonio Pequeno, Marino, e os irmãos
Miguel, Pedro, Nercina, Cassimiro e Regina de Odilonzinho, Neguim de Antonio de
Jovita, Edmário de João de Franco, Zé Pedro, Maria Núncia, Ratinho, Didi de
Colinha, Paulo Novaes, Professor William, Zé e Osvaldo de Sinésio, Rosalia,
Olga de Zé Pedro, Meu padrinho Arsênio e minha madrinha Neuza do saúdo padrinho
André, Renê, Davizinho, Antonio Jacú, Raul Miranda, Dr. Ivan Carlos, Raffa
Alecrim, Geovazão, Juarezinho, Quinca e Valmir meus primos, Miguel, Vilson,
Genário, Ildebrando, Daladier, Pedro, José, Gedeon, Roberval, Olindina e Maria de
Lourdes, meus queridos irmãos, Uelder Almeida e Anfilófio Filho, pessoas a quem
devoto a minha mais sublime admiração.