Então é natal? Duvido
muito, não posso concordar que na festa de natal do filho do criador, de quem
me declaro fã incondicional, pela sua imensa sabedoria e inavaliável bondade,
seja uma data para consumismo exagerado e até doentio, muitos de nós estamos
agudamente enfermos, encontramos desculpas em tudo para sermos consumistas
devoradores, tudo compramos, sem percebermos que na verdade estamos sendo
egocêntricos, individualistas e simples instrumentos da mídia, e ainda fazemos isto
travestido da mais soberba arrogância, sendo a pergunta por demais pertinente:
então é natal?
Então é natal? Duvido muito, em plena celebração do aniversário do homem que se
ofereceu como último cordeiro para nos salvar, ainda existem cristãos com almas
púrpuras de ódios, de mágoas, de rancores, com corações ressequidos de amor, de
forma que para mim, nesse vale árido de bondosas virtudes a data pode ser
tudo, menos natal. A comemoração do nascimento do filho do homem não pode
acontecer em meio à discórdia, em meio a corações plenos de ressentimentos,
desejosos de vinganças, cujo maior sonho que lhes habitam nesse deserto de
ético entendimento relacional, é o fracasso do próximo, daquele considerado
desafeto, daquele tido como concorrente, do adversário de hoje, mas aliado de
outrora e do futuro, dependendo das conveniências, para que tombem de forma
indigna e que ele possa assumir o seu lugar. Então é natal mesmo? Ou é
Pseudestasia?
Então é natal? Duvido muito, pois se nas solenidades que marcam o natalício do
rebento de Deus, ainda existirem famintos, descalços, desnudos, desdentados,
desgrenhados, uma procissão desalmada que vaga sem rumo, se existirem também
meninas mal saídas da infância, cujas virgindades, inocências física e moral
deveriam ser protegidas, mas que alguém de forma cruel e insana já as
prostituíu, já as corrompeu, e se também existirem menores e maiores
abandonados, sem teto, sem nada, sem emprego, sem dignidade, sem cidadania,
sinceramente indago a você minha irmã, meu irmão: Então é natal? ou
Pseudestasia?.
Então é natal? Tenho angustiantes dúvidas, já que o culto exagerado ao corpo e
ao tido como belo, com gastos com profissionais conhecidos como personal
stylist, personal trainer e academias de pilates, dança e malhação em
geral, são mais importantes para essa juventude do "tanquinho" e para
adultos sem céfalo do que a discussão sobre as pragas do preconceito com os
diferentes, com as minorias, com os portadores de deficiências, com os
originários de etnias diversas, com os idosos, então pergunto, é natal?
Então é natal? Tô extremamente confuso, só ouço falar em próteses de silicone,
corrupção, crime organizado, consumo e tráfico desapiedados de drogas, mortes
em massa de seres humanos, de sexo irresponsável e prematuro de adolescentes
órfãos de conhecimentos mínimos, de herbalife e de carrões “abençoados”
adquiridos na base do financiamento esticado e de ganhos suspeitos, cujos
proprietários, entes absurdamente alienados ainda colocam os dizeres em letras
garrafais “FOI DEUS QUEM ME DEU”, numa afrontosa ofensa ao pai do homenageado,
de forma que atordoado peço ajuda, me digam: Então é natal?
Ah, já ia me esquecendo de verberar para os mais desavisados, que PSEUDESTASIA
é a falsa sensação de alegria coletiva, sendo o natal para muitos, uma
hipócrita sensação de contentamento, gerado pelo capitalismo que manipula e
produz valores, fabrica costumes e desejos, a exemplo da ceia de natal,
decoração, consumo de determinados alimentos, roupas, presentes, gerando para
aqueles que não podem comprar insatisfações traduzidas na tristeza, conflitos
familiares e as mais diversas revoltas.
Então gente, vamos substituir essa falsa alegria pela alegria verdadeira, que
vai muito além de presentes e mercadorias, cuja sociedade mercantilista e
coisificada, com o uso competente da mídia, teve o poder de silenciar a
religiosidade do natal, e comecemos a mudança arrancando as flores das nossas
prisões consumistas, para que em seus lugares possam brotar flores verdadeiras,
reais, uma vez que somente desse modo, a alegria imaginária (pseudestasia)
cederá lugar a alegria real, a um mundo de amor, de felicidades, de
entendimento e de terno respeito a todos os nossos semelhantes, e aí sim,
universalmente irmanados poderemos perguntar: ENTÃO É NATAL? E também possamos
responder num couro fraterno e uníssono: É, É, É TEMPO DE JESUS, É A HORA DO
POVO DE DEUS...
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