sábado, 23 de abril de 2011

A SOCIOLOGIA PRESIDENTINA

Ei amigos, eu nasci na cidade de Presidente Dutra e foi lá, sem saber, sem ter consciência, que sofri preconceitos, imagine, andei o mundo inteiro, não sofri o menor constrangimento, mas na minha cidade, no meu tempo, o preconceito era explícito, perverso, medonho, creio que isso findou por formar alguns meninos bons em foras da lei, alguns deles já foram apanhados pela prática de crimes contra o patrimônio, dentre eles destaco o injusto penal tipificado no Código de Penas como estelionato, o crime de levar vantagem, pois, naqueles tempos, se vivia “NA DUTRA” a sociologia do ter, era comentário geral: fulano comprou uma camioneta, beltrano comprou um corcel, uma moto, etc., se hoje ainda encontra-se em voga o provérbio “vale quem tem”, naqueles tempos de atraso exagerado o axioma tinha uma simbologia bem própria, a do quero, mando e posso, quem tinha, tinha poder.

A nossa cidade era paupérrima, um verdadeiro bolsão de miséria encravada num dos mais miseráveis grotões baianos: o Alto Sertão da Bahia, onde a aposentadoria rural ainda não havia chegado, benefícios e programas federais, a exemplo de Bolsa Escola, PETI, PRÓ-JOVEM, eram coisas que nem as mentes mais arejadas, mais avançadas sequer sonhavam, e trabalho só na época das chuvas: capinar e plantar, quem era bom na enxada ou nas plantadeiras de feijão e milho, alugavam suas forças de trabalho por ínfimos tostões, que mal davam para comprar um quilo de toucinho, feijão e farinha no dia da feira livre, que era aos domingos, arroz, carne, óleo, eram artigos de luxo, quantos almoços não degustei à base de feijão, sal e farinha, nem à básica gordura tínhamos acesso, pois em nossas casas, humildes barracos, o que existia de fartura mesmo, era muita necessidade, era pobreza franciscana no sentido literal do termo.

Morávamos na Rua Nova, lá pras bandas da Paraibinha, a Rua Nova leva hoje o nome de minha irmã mais velha, Dona Nercina Mendes e a Paraibinha o nome da viúva de Mané dos Santos e por isto mesmo, éramos tratados com rançoso preconceito, com deslavado descaso, como se fóssemos entes de décima categoria, verberavam: ELE É DO OUTRO LADO e o outro lado era o local carente, humilde, da nossa gloriosa Presidente Dutra e pasmem: alguns nos arremedavam (imitavam) nosso jeito lindo de falar, que só depois de muito tempo, passei a ter consciência que falar arrastado é ter identidade, é ser gente que se mistura com suas tradições, suas culturas, só depois descobri que a Antropologia se interessa pelo OUTRO LADO, PELOS PEDAÇOS, PELAS QUEBRADAS, PELAS MANCHAS tão apontadas de forma daninha por pobres homenzinhos que se achavam donos da verdade, mas que não enxergavam à frente mais do que um palmo, não sabiam esses liliputianos que o outro lado é honesto, desnudo de vícios, de falcatruas, de mãos calosas mas agudamente cristalino, limpo, como o próprio véu de Nossa Senhora, com raríssimas exceções, por culpa do ódio dos preconceituosos DA PRAÇA.

Nenhum do outro lado foi escolhido para ser Dom Pedro nas festividades do dia da pátria, ponto alto em Presidente Dutra, mesmo tendo mais talento. Nenhum de nós nunca foi escolhido para representar sua escola e discursar nessas datas solenes, mesmo tendo mais cabedal, mesmo ostentando mais conhecimento. Não sabiam essa súcia rancorosa, que JESUS TAMBÉM VEIO DO OUTRO LADO, DAS QUEBRADAS, DOS PEDAÇOS, DAS MANCHAS, DAS GALERAS, DAS COZINHAS, quando ele esteve aqui e seus atos começaram a ser conhecidos do grande público, muitos de Jerusalém diziam: da Galiléia não pode sair nada que preste, assim também era o enrustido atraso maquiavélico do meu tempo, que era nada mais nada menos, do que uma cultura de morte, não deixar QUE OS DO OUTRO LADO tivessem vida, vida em abundância, podendo galgar espaços verticais na pirâmide social.

O comércio ficava na praça, parece até que mendigávamos, tamanho era o mal e grosseiro atendimento, muitas vezes com brincadeiras de mal gosto, eu era chamado de galego, alemão e outras coisas, só depois descobri, ao ler o livro do saudoso Darci Ribeiro “Cordialidade do Povo Brasileiro”, que chamar os outros de apelido, é uma forma de desprezo, de asco dos poderosos, que tratam tão mal os fracos e oprimidos, que para não se darem ao trabalho de decorar seus nomes, tratam-nos por alcunhas, sendo que tal costume, de cordial não tem é nada mesmo.

Somente os DA PRAÇA tinham acesso a estudo em Salvador, esses pobres diabos, quando vinham da capital, não conheciam mais ninguém, eram tão idiotas, vazios, que se entucavam no Bar de Teco e se encharcavam de cachaça, falando dialetos novos como AGRONOMÊS, MEDICINÊS, PEDAGOGÊS, VETERIANÊS, que somente aquelas pobres almas, perdidas na escuridão do preconceito entendiam, porém, não tomei conhecimento de que seus estudos tenham servido de alguma coisa ao nosso povo, que quando necessitado de atendimentos, tinham que pagar caros aos médicos, aos agrônomos, aos dentistas, aos veterinários DA PRAÇA, os quais, mesmo tendo nascido vendo aquelas gentes, nunca lhes dispensaram um bom dia e os atendiam de cabeças baixas, talvez para esconderem suas incongruências, indelicadezas, desprezo ou mesmo não revelar as trevas da incompetência em que viviam.

Quem eram os praticantes desses injustos e doídos preconceitos? Quem respondeu parentes bem próximos acertou em cheio. Tenho primos legítimos que nunca dirigiram a palavra a minha simplória pessoa, nunca me viram como ser humano, mas como molambo, ramaféia, escória e tinham vergonha de assumirem o parentesco, mas seus pais eram irmãos dos meus e isto eu não conseguia entender e espero que algo tenha mudado no panorama, no horizonte presidentino, já que me recuso a ser tratado como PRESIDENTEDUTRENSE, SOU MESMO É PRESIDENTINO, como dizia Pedro Sarninha, este sim, dos nossos e que nunca maltratou os DO OUTRO LADO.

Então PRESIDENTINOS DE UM NOVO TEMPO, lembrem-se que o primeiro milagre de Jesus foi num casamento, e Jesus estava na cozinha, pois na sala até hoje ficam os doutores, já sentir isto nesta pele calejada, sofrida pelo trauma de não ser gente em seu próprio torrão natal, o que retira de mim o telurismo integral pela minha terra, ocasião em que, quando Maria disse para os membros daquela casa que seu filho resolveria o problema da falta de vinho e comida, ele estava na cozinha, junto com os pobres, ENTÃO PRESIDENTINOS DE UMA NOVA ERA, NÃO DEIXEM QUE NUNCA MAIS, “OS DO OUTRO LADO” SEJAM HUMILHADOS, MALTRATADOS, TRATADOS COM DESPREZO, COM PRECONCEITO, pois, se assim o fizer, é a Jesus que estará desprezando, já que ele estará sempre com “OS DO OUTRO LADO” NAS COZINHAS, NA CAMINHADA DA VIDA, na busca da inversão dessa cruel sociologia presidentina.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Alunos da Escolinha do Promotor Plantam Árvores na principal de Jacaraú.

O Promotor de Justiça de Jacaraú Dr. Marinho Mendes, muitas vezes controverso, mas incontestável, realiza um trabalho que está ficando na história da comarca de Jacaraú, e com certeza na memória de muitas crianças da Escolinha do Promotor.